quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Não cries fortalezas


"Não cries fortalezas em torno de ti . Fortalezas que impeçam a luz de entrar e o lixo diário de sair. Caso contrário, viverás nas sombras, sufocado pelo pior perfume.

Não crie em torno de ti fortalezas que impeçam os amigos de entrar e conversar, porque tu também não poderás sair a nenhum lugar. Não cries em torno de ti fortalezas dissimuladas em riquezas, para que não adormeças sobre o ouro frio, sem um colo aquecido onde repousar a cabeça.

Não cries em torno de ti fortalezas disfarçadas em beleza, pois, essas, o tempo há de modificar.

Se ainda assim quiseres construir fortalezas não te utilizes da pedra áspera ou do aço frio. Constrói-as de certezas, fortifica a alma. Somente assim terás entre tuas visitas a paz de que tanto necessitas."


 Carlos Hilsdorf

Poeta, um veemente ser inquieto


O poeta coleciona pensamentos ocultos, inquietos, gritantes; que cantam, dançam e trocam carícias. Sentimentos trocados; imaginação aguçada; alma inquieta. O princípio da valsa dos sentidos: eles rodeiam, voam e findam-se em várias notas, em várias palavras.

Por vezes, no poeta surge a vontade de cortar as asas da sua imaginação infrene. Nessa fração de tempo, um eterno momento, dói pensar. E da dor nasce a palavra; e dela, um novo sentido; e dele, um sentimento. O sentido, a palavra, a emoção e as lembranças, misturam-se e machucam-se. Vem à memória a antiga alma. A alma simples, que não carecia de tanta explicação, tanta definição, tanta dor. A alma que marejava lágrimas de felicidade e não de pesar. E quando a dor se esvai, a inquietude permanece.

O poeta é um eterno ser inquieto. Flamejante. Turbulento. É que, às vezes, as cores se misturam; às vezes, não há cores. A luz é um coração aliviado. A sombra é uma mente prestes a assassinar o sossego. A mente briga com o coração; os dois se atacam. Incessante regresso à alma confusa e solitária. Revoltados, alguns pensamentos crescem propensos ao suicídio; mas dentro de um poeta não há morte, há reformulação. A própria morte se reforma, se recria, insiste em existir. Mas nesse coração inquieto há tanto amor, tanta vida, que a morte fica tímida.

Os poetas abarcam qualquer sentimento; vivem alguns, transformam outros.


Marília Funchal

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O tudo que agora vive em mim


O 'quase tudo' viaja aqui, dentro de mim. Onde o raio do sol é vermelho e a paixão é ouro. Onde os pássaros correm e a mente voa. Onde as flores falam e os perfumes cheiram. Onde as estrelas cantam e as árvores choram. Onde o mar é beleza e a areia, charme. Onde o quadrado rola e a torre implora. Onde o vento dança e o coração embala. Onde o sino canta e a voz cala. Onde o peixe afoga e o pensamento nada. Onde a lágrima reage e o coração ainda bate. Bate querendo sair de mim.Mas meu coração é fraco diante do fervor, diante do amor. É que o amor ataca, invade. O frágil coração não consegue escapar da bala perdida. Um tiro certo, que faz reviver o coração que antes se afogava num mar de água morna. O 'quase tudo' se fez 'tudo' e agora vive aqui, dentro de mim.

 Marília Funchal